Wednesday, July 05, 2006




1000 LIGHTS
vol.1 1878 - 1959

eds. Charlotte and Peter Fiell
TASCHEN

Introdução : Evolução da iluminação Artificial


“ a intangivel expressividade da luz que continua a ser o primeiro utensilio do criador “

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A iluminação eléctrica surge como sendo das descobertas ciêntificas que maior alcance tiveram no desenvolvimento da civilização como nós a entendemos actualmente.
Se é verdade que desde o inicio da Humanidade a regulação da vida quotidiana é feita pelo Sol, então será inegável que o desenvolvimento da luz artificial permite ao Homem que se liberte dos ritmos da natureza até então obrigatórios, demonstrando crescente capacidade para redefinir o mundo que o rodeia.
O nosso tempo de vigilia cresceu progressivamente até ao actual sistema de funcionamento 24/ 24 horas e a iluminação eléctrica é ainda um forte simbolo de progresso na actualidade.

Nos finais do sec.xIx o desenvolvimento da iluminação eléctrica fez-se em simultâneo com o surgimento da profissão designer ou desenhador de produtos industriais, uns destes profissionais mais concentrados na funcionalidade do objecto ao mesmo tempo que outros mais sensiveis ao potencial expressivo da luz eléctrica.
Nos primeiros anos da eléctrificação doméstica os produtos fonte de luz eram criados como parte integrante da decoração interior tendo portanto elevados custos de produção.
No periodo compreendido entre as duas grandes guerras mundiais, na primeira metade do séc.XX, com o progresso da idade da máquina e da industrialização em grande escala, começaram a surgir as tão procuradas soluções universais e económicamente compativeis com a produção em série, democratizando-se o acesso à técnologia.
No final da Segunda Guerra Mundial surgem movimentos de experimentação formal que resulta numa enorme diversidade de propostas estéticas no desenho de candeeiros eléctricos.
Não estando estes produtos sugeitos a preocupações ergonomicas, tal como outro equipamento que vive do contacto com o corpo, possibilita-se uma maior liberdade de criação do objecto, uma maior autonomia portanto.


- Da lâmpada de óleo à iluminação a gás

As primeiras lãmpadas terão surgido cerca de 70 000 a.c. em forma de concha, um recipiente onde se embebiam matérias vegetais em gordura animal, que seria queimado lentamente.
Por volta de 3 000 a.c. começaram a surgir as primeiras lãmpadas a óleo.
Por volta do sec. VII a.c. os Gregos já utilizavam lãmpadas de óleo feitas em terracota que iam gradualmente substituindo os archotes.

A palavra Lãmpada deriva do grego Lampas que significa archote .
Durante o periodo Romano eram utilizadas lãmpadas de óleo feitas em argila, geralmente decoradas com cenas alegórica eróticas ou de caça, produzidas nas suas própras unidades de produção.
Nos 2000 anos que se seguiram foram utilizádas velas, candeias, lãmpadas de oleo feitas de argila, pedra ou metal.
Em 1792 o engenheiro escocês William Murdock (1754-1839) inventou o gas de iluminação dando-se inicio à substituição do Óleo como principal fonte de combustivel para este efeito.
Em 1803 foram distribuidos pela àrea de Pall Mall em Londres os primeiros candeeiros a gás desenvolvidos pela empresa Boulton-Watt A iluminação a gás chega aos EUA a Baltimore em 1816, e a Paris em 1820.
Em 1900 com o surgimento do bico e da camisa incandescente é possivel obter uma iluminação mais brilhante e branca a partir do denominado gás de iluminação.

Anterior à utilização do gás aconteceram tentativas de produzir luz com energia eléctrica mas que insistia em não produzir efeitos práticos.

A invensão da luz eléctrica é atribuida ao fisico alemão Otto von Guerricke por volta de 1663, quando este produziu faiscas de eléctricidade estática graças a um globo de de vidro cheio de enchofre que fazia rodar esfregando-o num pano.

Em 1709, Francis Haukbee melhorou esta anterior invensão de ‘gerador’ ao acrescentar uma pequena quantidade de mercúrio ao globo de vidro e esvaziando a totalidade de ar nele contido. Uma vez carregado de eléctricidade estática este produzia luz quando tocado com as mãos. Tinha sido criado a primeira iluminação a neon do mundo.


Outros cientistas: Antoine François de Fourcroy, Louis Nicolas Vauquerin, Louis Jacques Thenard, demonstraram até 1850 que grandes placas galvanicas carregadas de electricidade tinham potencial de ignição.

“Mr Children” o britanico Sr. Humphry Davy, tentou produzir eléctricidade através de descargas eléctricas, o que intusiasmou o interesse pela possibilidade de produção de energia eléctrica através do principio da incandescência:
“quando sólidos e gases são aquecidos a uma temperatura superior a 525 graus centigrado, estes emitem luz.”

Neste momento deparou-se com o problema do filamento exposto ao ar ser rápidamente consumido e não foi ele que contornou esta questão tendo-se concentrado nos tempos que se seguiram no arco eléctrico.


- O arco eléctrico

Em 1809 sir. Humphry Davy aperfeiçoa o primeiro arco eléctrico de carbono. Este tipo de aparelho funcionava sem filamento servindo-se de dois eléctrodos de carbono colocados muito próximos um do outro sem se tocarem.
A corrente eléctrica ao passar neste curto espaço formava um arco de vapor luminoso sendo que as extremidades dos eléctrodos levadas ao rubro (branco) produziam uma luz viva.

Apenas em 1840 começaram a ser utilizadas as lampadas de arco electrico para a iluminação de grandes espaços publicos
Em 1846, o britanico Wiliam Edwards Staite descobriu que os eléctrodos de carbono se consumiam menos rápidamente se colocados num vaso de vidro relativamente estanque ao ar.
Apenas em 1857 o inventor francês Victor Serrin apresenta a primeira lampada de arco realmente satisfatória
Apesar do desenvolvimento que sofrem durante o sec.xIx a sua utilização domestica está condicionada à partida dado o seu exagerado brilho.


- Iluminação eléctrica de incandescência

A primeira referência é feita num artigo publicado por William Robert Grove em 1840 explicando como terá utilizado um fio de platina em forma de expiral sugeito a tensão e este produzido incandescência.
Em 1841 Frederick de Moley aperfeiçoou o mesmo principio e em 1845 tentou o mais possivel o vácuo, ainda imperfeito, mesmo assim conseguindo maior longevidade do filamento.
Por volta de 1848, Joseph Swan interessado pelo conceito in vacuo de John Wellington Starr, desenvolve experiencias para atingir a primeira lãmpada de incandescencia económica, utilizando o filamento de carbono o mais fino possivel. Foram serpentinas de papel e cartão embebidas em xarope, melaço ou alcatrão e aquecidas numa massa de pó de carvão que depois seriam carbonizadas.
Em 1860 Joseph Swan é bem sucedido em experiencias que revelam a fundamental técnica do vácuo, concentramdo-se então neste esforço em simultaneo com a criação de filamentos delgados e muito resistentes, convencido que seria a solução para a iluminação doméstica.
Em 1878 fez a sua primeira demonstração da sua lãmpada de incandescencia mas não tendo feito imediatamente a patende da invensão acabou por ser ultrapassado pelo inventor americano Thomas Edison. A confusão ainda actual sobre o verdadeiro primeiro inventor acaba por ser de menor interesse quando ambos desenvolveram o seu trabalho de forma independente e curiosamente com um desfazamento de alguns meses.
A 3 de fevereiro de 1879 Swan fez uma demonstração pública da sua lâmpada eléctrica de incandescência na Sociedade de Quimica de Newcastle-upon-Tyne.
O fornecimento de energia eléctrica mantendo os seus niveis de preços elevados nos anos 60 do sec.xIx continuou a ser um obstáculo ao rápido desenvolvimento das investigações.
Edison Electric Lighting Company é fundada em 1878 com o objectivo de desenvolver uma lampada de incandescencia segura e barata, que viria a ser apresentada em 1879 utilizando um bico de papel carbonizado em forma de ferradura e tendo brilhado durante 45 horas.

Em 1879, no dia 31 de Dezembro, acontece em Menlo Park a primeira demonstração pública das novas lãmpadas de Edison. No inicio de 1880 a empresa de Edison comercializou e instalou o seu primeiro sistema de iluminação no SS Columbia, um novo navio a vapor.

Já na altura havia duas formas possiveis para ligar a lampada à fonte de energia: Edison escolheu a rosca e Swan escolheu a baioneta.
Reuniram esforços associando-se na Grã-bretanha formando em 1880 a Edison and Swan United Lamp Company.
Desde os anos 90 do sec.xIx que se adopta a corrente alternada de forma generaliazada.
Edison tinha perfeita consciencia que sem uma rede que permitisse distribuir a corrente, a iluminação eléctrica não poderia ser económicamente viável. Vendeu as suas acções da empresa e construiu fábricas de dínamos, caixas de junção, tubos subterraneos, casquilhos e interruptores.
Em 1882 inaugura a primeira central eléctrica permanente do mundo em Nova York. Durante as duas décadas seguintes aperfeiçoa a sua lãmpada eléctrica abandonando rapidamente o filamento de carbono em forma de ferradura, passando a utilizar filamentos mais finos e flexiveis feitos de fio de algodão carbonizado
Edison mostrou-se favorável à corrente continua mas foi a corrente que alterna a adoptada freferencialmente desde o inicio de 1890.
Inicia-se a era da eléctricidade com o surgimento das fontes de luz seguras, fiáveis e económicas. Com esta uma crescente preocupação estética e decorativa inspirada na Arte Nova, preocupações para além da técnica e funcionalidade que caracterizava os produtos Edison.

“ para inventar é preciso uma boa dose de imaginação e um monte de tralha “
Thomas Edison


Arthur Smith Benson, Louis Confort Tiffany, Émile Gallé e Josef Hoffmann, desenhadores que na viragem do século XX dominavam já a técnica do trabalho de metal e vidro combinando a nova técnologia da iluminação electrica e as tendencias de vanguarda estética.
A Arte Nova deu inicio a uma estética mais austera no inicio do secXX ilustrada pelas lampadas de arco utilitarias de Peter Behrens, movimento utilitário depois retomado nos anos 20/ 30 pelos movimentos De Stijl e Bauhaus, garantindo a produção em massa de conceitos modernistas, de acesso público e com uma função.

Paradoxalmente e em simultaneo, surge o apogeu da Art Déco em que se destacam René Lalique e Jean Perzel, sofisticados e luxuosos servindo uma clientela de elite, utilizando materiais como o bronze e o alabastro.

O conceito de escultura industrial foi explorado sobretudo pelos italianos como Gino Sarfatti (1912-1984), explorando também materiais desenvolvidos durante a guerra, combinando a elegância, imaginação, simplicidade técnica, explorando o potencial emocional da luz eléctrica.

Em 1910 inventa-se a primeira lampada de neon por George Claude sendo utilizada maioritariamente na sinaléctica dada a sua moldabilidade.
Em 1910 inventa-se a primeira lampada de filamento de tugsténio por Wiliam Coolidge.
Em 1927 é patenteada a lampada fluorescente por Edmund Germer idealizada para escritórios, fábricas, escolas e grandes superficies públicas.

Com os anos 40 e o pós-guerra surge o crescimento económico e o novo acreditar num futuro e em novos conceitos técnicos e estéticos, em grande parte dominados pelas empresas italianas.


“ pareceu-me claro que teria toda a vantagem em utilizar um filamento de carbono o mais fino possivel.. servindo-me de papel carbonizado.. “

Joseph Swan


“ se houver melhor forma de o fazer.. descubram-na.. “

Thomas Edison

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modelos de Luminárias referencia desde finais sec.XIX:

Dale company
combination bracket and portable table/ wall light - finais de 1890s
- combinação de latão com sistema inovador de contra-peso incorporando um casquilho patenteado por Edison. Foi projectado com a intenção de ser utilizado com um quebra-luz de tecido.

extension/ portable table light - finais de 1890s
- com casquilho e interruptor Edison, tendo um braço ajustável que permitia o aumento em 20 cm. Com um elegante braço de latão e pormenores de inspiração clássica.

W.A.S. Benson
Depois dos seus estudos em arquitectura virou a sua atenção para produtos em metal tornando-se o principal desenhador do movimento “arts and crafts” (UK). Na reforma da Arte Nova Benson era defensor da utilização de maquinaria na produção das suas criações em latão e cobre, conciliando a produção artistica e a mecanização, sendo assim um precursor do design moderno. Desenhou milhares de lustres, candeeiros de parede e mesa e todos foram fabricados na sua oficina fundada em 1880.
“Mr Brass Benson” combinava o latão e o cobre tirando partido das tonalidades quentes sendo que utilizava formas sinuosas mas simples.
Os seus quebra-luz de vidro opalino ou vidro vaseline são também inspirados em formas da natureza.
Em 1835 experimenta-se um novo corante na fábrica de James Powel, à base de sais de urânio dando ao vidro um tom amarelo-esverdeado muito particular, mas sendo ligeiramente radioactivo deixou de ser produzido por razões de segurança na saúde. Quando exposto aos raios ultra-violeta (luz negra) emite um verde vivo e luminoso.
O fabrico industrial não se reflecte na sua estética, sendo considerado artesanato industrial da maior elegância.

Charles Rennie Mackintosh
hanging light - 1900
- desenhado para o seu próprio apartamento em Glasgow, era um cubo coberto por uma semi-esfera e o uso de motivos em forma de pétalas.

G. de Kervéguen
bulles de savon appliques - 1900
- a exposição universal internacional de Paris mostrou, no que diz respeito a candeeiros, que a tendência eram as figuras esculpidas como base de candeeiros, geralmente criados por artistas que integram engenhosamente a lãmpada e o quebra-luz.

Georges Flamand
figural table light - 1900
- a femme-fleur era um dos motivos mais caracteristicos da Arte Nova francesa. Normalmente as figuras femininas eram de cerâmica ou bronze fundido e serviam de decoração de escritório. O facto das lãmpadas não serem cobertas por quebra-luz era bastante frequente dado que a corrente eléctrica era na altura de fraca intensidade. As lãmpadas eram uma novidade para ser admirada e não para ser escondida.